Diane
Hales e Doris Helmering
Ele
se esqueceu do aniversário dela.
Ela se atrasou para o jantar com um cliente importante. Ele quebrou a perna uma semana antes da viagem dos sonhos do
casal. Ela gastou a devolução do imposto em moveis de jardim sem consulta-lo.
Mais cedo ou mais tarde a pessoa que amamos nos decepciona. O marido não se
mexe para instalar o ar-condicionado, apesar do calor escaldante. A esposa se
esquece da lavagem a seco do torno dele
Se
o comportamento não muda (por exemplo, um dos cônjuges continua gastando de
mais no cartão de crédito), ou a decepção é particularmente dolorosa (um
deles revelou os maiores segredos ao amigo), a mágoa pode ameaçar toda a relação.
No
entanto, grande parte das decepções pode ser diminuída - e até apagada -, se
o cônjuge fizer algo além de simplesmente se sentir mal ou ficar com raiva.
Eis
aqui cinco sugestões de conselheiros matrimoniais para lidar com inevitáveis
omissões e deslizes:
Vá além do momento
Certa
mãe ocupada tinha o tempo exato para deixar a filha na e ir a um compromisso
importante quando percebeu que o marido, que lhe emprestara o carro na véspera,
deixara o tanque vazio. Ela passou rapidamente no posto de gasolina, porém se
atrasou para a reunião.
Naquela
noite, reclamou do marido: ‘como pode ser tão desligado?’ Médico, ele se
distraíra com a ligação de emergência de um paciente no telefone do carro, e
nem observara o combustível. Quando a raiva passou, ela percebeu que se zangara
não tanto com o que ele fizera, mas com o pensamento de que fora
desinteressado.
A
maioria dos parceiros não age de má-fé, diz a conselheira matrimonial
Michaeleen Cradock.(só estão cuidando de suas próprias necessidades
imediatas). Maridos e esposas que se esquecem de pegar o videocassete no
concerto ou comem a ultima fatia de bolo de chocolate não querem prejudicar o
outro. Estão simplesmente atravessando momento de desatenção.
Da próxima vez que achar seu cônjuge omisso, tente se colocar no lugar dele: o que está acontecendo em sua vida neste momento? Provavelmente, ele se esqueceu de que é parte de uma equação e seu comportamento afeta duas pessoas.
Lembre-se da grande imagem
Todos
os dias, ao lavar a louça, a colunista de certo jornal via da janela uma bela
árvore florida. “Adorava aquela árvore”, conta. “As folhas voavam como
borboletas ao vento”. Quando o marido começou a podar os arbustos, pediu-lhe
especialmente que não tocasse na árvore. Mas, ao voltar das compras, a árvore
fora cortada. “Tive de cortá-la”, disse o marido. “Ficou feia depois que
a podei”.
Apesar
da explicação, a mulher ficou furiosa. “Pensei: Por
que não cumpriu a palavra? Não sabia o quanto eu gostava da árvore?” Após
martirizar-se e ao marido durante alguns dias, ela forçou-se a parar e pensar.
“Percebi que estava deixando meus sentimentos negativos levarem a melhor sobre
mim e meu casamento – e, se aquela era a pior coisa que meu marido já fizera,
eu era uma esposa de sorte. Ele teve um instante de desatenção, que equilibrei
com a vida inteira de consideração”.
Perspectiva
é algo difícil de se manter no casamento porque não se tem o tempo nem a distância
suficientes para deixar os maus sentimentos se dissiparem. A promessa quebrada
de hoje se soma à retirada bancária não registrada de ontem. E camadas de
sentimentos vão sendo construídas.
Para
evitar ser sufocado por mágoas antigas, não se esqueça da decepção recente
– resolva-a logo quando acontecer – e resista à tentação de voltar ao
passado. Se houver algo que o cônjuge possa fazer para que você se sinta
melhor – levá-lo para jantar em comemoração ao aniversário de que ele ou
ela se esqueceu, por exemplo, ou, no caso da colunista, plantar uma nova árvore
– diga.
Exercite suas opções
Às
vezes, o que mais ajuda a resolver diferenças individuais é o sendo de humor.
Durante anos, o hábito de certa mulher de não fechar as portas exasperou o
marido. “Eu levantava à noite para ir ao banheiro e – bem! – esbarrava na
porta do armário aberta”, queixava-se ele.
Depois
de pedir que fechasse as portas, reclamar e enfurecer-se cada vez que ela se
esquecia, ele desistiu de tentar mudá-la. “É uma das características que a
faz ser quem é”, diz. Hoje ele ri e vai ao banheiro à noite com os braços
estendidos.
John
Gladfelter, psicólogo clínico, lembra: “Não devemos deixar que sentimentos
negativos dominem nossa vida. Temos outras opções.”
Busca de soluções
Em
20 anos de casamento, a secretária e o despachante discutiram sobre a divisão
de tarefas em casa. Quando mudaram para uma casa maior, a esposa precisou de
mais ajuda do marido. Então, concordaram que ela cozinharia e faria compras,
enquanto ele aspiraria a casa nos fins de semana. “No início, ele cumpriu o
trato, mas depois começou a esquivar-se”, queixa-se a esposa. “Conversamos.
Ele reassumiu a função, porém voltou a se esquivar. Conversamos novamente.”
O modelo se repetia e a esposa ficava cada vez mais ressentida.
Muitos
parceiros caem na armadilha de tentar resolver uma questão recorrente da mesma
velha maneira. “Cada vez que não funciona, o problema piora”, explica a
conselheira matrimonial Serra Bording-Jones. “A mulher pode acusar o marido de
não amá-la porque ele não mantém a palavra. O marido, achar que ela está
tentando controlá-lo e recusa-se a ceder. E ambos podem tornar-se sarcásticos
ou cínicos”. Como uma bola de neve, o assunto cresce e fica potencialmente
mais destrutivo.
Nessas situações, os dois
precisam pensar num compromisso criativo que funcione para ambos. Aqui, o casal
poderia permutar as tarefas, com a esposa aspirando e o marido fazendo compras.
No entanto, escolheram outra opção: ele aspira a cada duas semanas, o que é
mais do que gostaria, porém menos do que ela quer. “Tornei-me mais flexível”,
conta ela. “Se ele se esquece, não declaro a Terceira Guerra Mundial. Além
disso, está cumprindo o trato muito melhor agora”.
Reacenda
o romance
Após
20 anos servindo ao mundo todo, freqüentemente sem a família, certo coronel da
Marinha se reformou e começou a trabalhar como consultor. “Quando passei a
ficar mais tempo em casa, apaixonei-me de novo por minha mulher”, revela.
“Queria sair para jantar, viajar nos fins de semana, recuperar todo o tempo
perdido”. Porém ela, que tinha a própria vida, estava ocupada com seu bufê
e o trabalho voluntário.
As
queixas de que um dos parceiros não é mais atencioso, romântico, carinhoso ou
disponível como antes são comuns no casamento. Freqüentemente são as
mulheres que, negligenciadas, sentem falta de pequenos gestos, como elogios ou
buquês de flores, que mostram que os maridos ainda se preocupam. Eles, também,
podem ansiar por maior intimidade e romance. Homens acham natural o carinho de
suas mulheres. Porém, quando ele desaparece, sentem falta, e querem-no de
volta.
Por
sugestão de um amigo, o coronel decidiu agradar à mulher, como fazia anos
antes. À noite, quando ela chegava exausta, acendia a lareira e esperava-a na
porta com um copo de vinho. Depois de verificar a agenda da esposa, planejou um
fim de semana numa romântica pousada na praia, e enviou convite formal
requisitando o prazer de sua presença. Os dois agora se descrevem como um
“casal em lua-de-mel”.
Mesmo
nos casamentos duradouros, gestos carinhosos e românticos mantêm a chama
acesa. Elogie com freqüência. Diga a ele o quanto sempre o admirou. Diga a ela
que adora sua risada.
Se
a vida está atribulada pela rotina doméstica e pelos filhos, estabeleça
momentos só para os dois. Simples mensagem como “penso sempre em você” ou
“queria estar com você agora” anima o dia de qualquer pessoa.
Com
algum esforço, pequenas mágoas que inevitavelmente ocorrem no relacionamento
podem ser postas de lado. Então, marido e mulher têm possibilidade de se
voltar para os prazeres – e não para as decepções – que o casamento traz.
Diane Hale e Doris Wild Helmering. In Seleções, setembro 97, pp. 9-12